Verba aplicada pelo COB nos últimos quatro anos foi dez vezes menor do que o investido por Grã-Bretanha, Alemanha e China no mesmo período
A verba aplicada pelo Comitê Olímpico Brasileiro nos últimos quatro anos chega a corresponder à décima parte do que foi investido pela Grã-Bretanha, Alemanha e China no ciclo olímpico Pequim 2008 (2005 a 2008). O estudo do COB foi apresentado nesta quarta-feira, dia 26, durante a audiência pública na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle e na Comissão de Turismo e Desporto da Câmara. Durante três horas, os deputados das duas comissões puderam conhecer em detalhes como foi a participação do Brasil nos Jogos Olímpicos Pequim 2008 e a realidade do esporte brasileiro se comparada a países que ocupam o topo do quadro de medalhas olímpicas. O COB foi representado pelo presidente Carlos Arthur Nuzman e pelo superintendente executivo de esportes Marcus Vinícius Freire. Também participaram da audiência representantes de empresas estatais que patrocinam o esporte e os presidentes das Confederações de Atletismo, Desportos Aquáticos, Handebol e Voleibol.
Durante a apresentação, Nuzman e Marcus Vinícius elencaram as responsabilidades e atividades do Comitê Olímpico Brasileiro, fizeram uma análise da participação do Brasil nos Jogos Olímpicos Pequim 2008 e compararam os investimentos feitos pelo COB com outros países de ponta do esporte mundial. Como exemplo, no ciclo olímpico para Pequim (2005 a 2008), o COB aplicou em suas atividades e nos programas das Confederações Brasileiras Olímpicas um total de R$ 288 milhões (cerca de US$ 133 milhões no quadriênio) oriundos dos recursos da Lei Agnelo/Piva e com a devida prestação de contas ao Tribunal de Contas da União e à Controladoria Geral da União.
No mesmo período, a Austrália aplicou US$ 550 milhões no esporte, contra US$ 1 bilhão da Grã-Bretanha, US$ 1,2 bilhão da Alemanha e US$ 2 bilhões da China. “São países que, como Brasil, investem em uma gama variada de modalidades. A diferença está no montante dos recursos. Para se obter resultados como os desses países são necessários investimentos a longo prazo, entre oito e 12 anos, definição estratégica do que se quer atingir e gestão profissional para programas de alto rendimento. Mas vale ressaltar que os investimentos em um determinado ciclo não visam apenas a participação nos Jogos Olímpicos. Há todo um trabalho nas categorias de base que não aparece, mas que é importantíssimo para o longo prazo. Além disso, nos últimos quatro anos tivemos conquistas de títulos mundiais em diversas modalidades, como judô, taekwondo, ginástica artística, vela e vôlei, entre outros. Portanto, não faz sentido se dividir o valor investido no esporte pela quantidade de medalhas conquistadas nos Jogos Olímpicos. É uma conta que não existe no esporte”, afirmou Nuzman.
O superintendente executivo de esporte do COB, Marcus Vinícius Freire, explicou a diferença de estratégia entre alguns países. “A Grã-Bretanha, por exemplo, levou a Pequim apenas o hóquei sobre a grama como esporte coletivo. Já países como Jamaica, Etiópia e Quênia investem os recursos apenas no atletismo, e mesmo assim em provas em que não competem entre si. O Brasil tem por tradição investir de forma equilibrada em todas as modalidades, mas está cada vez mais claro que para obtermos mais medalhas olímpicas será necessário direcionarmos os esforços para modalidades que distribuem muitas medalhas”, explicou.
Os Jogos Olímpicos Pequim 2008 apresentaram avanços significativos do esporte olímpico brasileiro e marcaram mais um passo rumo ao desenvolvimento do esporte no país. A delegação brasileira já chegou a Pequim estabelecendo recordes, com um total de 277 atletas (o recorde anterior havia sido em Atenas 2004, com 245) e a participação em 32 modalidades esportivas (em Atenas foram 28). Das 15 medalhas conquistadas (3 de ouro, 4 de prata e 8 de bronze), seis foram inéditas, o que comprova a qualidade da preparação nos últimos quatro anos com os recursos da Lei Agnelo/Piva. Além disso, o país participou de 41 finais, um aumento de 36% em relação a Atenas 2004 e de 86% em relação a Sydney 2000. Na disputa direta pela medalha de ouro foram 31 contra 17 em Atenas, aumento de 82,35%.
O velocista César Cielo obteve a primeira medalha de ouro de um atleta brasileiro na natação (50m livre) e ainda bateu o recorde olímpico três vezes nas eliminatórias da prova e na final. No salto em distância, Maurren Maggi alcançou a marca de 7,04m e ficou um centímetro à frente da segunda colocada. Foi a primeira medalha de ouro olímpica individual das mulheres. Depois das medalhas de bronze em Atlanta 1996 e Sydney 2000, a Seleção Feminina de Vôlei conquistou a medalha de ouro após vencer os Estados Unidos na final por 3 sets a 1.
Na vela, Fernanda Oliveira e Isabel Swan, da classe 470, foram as primeiras velejadoras do Brasil a conquistar medalhas olímpicas. A judoca Ketleyn Quadros tornou-se a primeira medalhista olímpica individual feminina do esporte brasileiro com a conquista do bronze na categoria leve. Natália Falavigna, que já havia participado de uma semifinal olímpica em Atenas 2004, levou o taekwondo à sua primeira medalha na história dos Jogos Olímpicos.
Dos 277 atletas da delegação, 75 conquistaram medalhas (27%), sendo que 108 (39%) disputaram finais. Destaque para a equipe feminina de ginástica artística, cuja prova o Brasil nunca havia sido finalista. Pequim 2008 marcou também a primeira participação do Brasil na luta livre feminina (Rosangela Conceição), na canoa (Nivalter Santos) e na canoagem slalom feminina (Poliana de Paula). “São resultados tão importantes quanto as medalhas conquistadas, pois comprovam a evolução do esporte brasileiro em diversas modalidades”, ressaltou Marcus Vinícius.
A análise feita pelo COB após Pequim 2008 conclui alguns fatos importantes. A conquista de medalhas está cada vez mais difícil. Se em Atenas 74 países conquistaram medalhas, em Pequim 2008 esse número saltou para 87, com a quebra de 128 recordes olímpicos e 42 recordes mundiais. Os países mais desenvolvidos do mundo também são os que mais ganham medalhas em Jogos Olímpicos. Dos 10 primeiros países no quadro de medalhas, oito fazem parte do G-8 e oito estão entre os 30 primeiros no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
“Em que pesem as dificuldades cada vez maiores para a obtenção de medalhas olímpicas, a evolução do esporte brasileiro é evidente. Estamos acelerando o ritmo de crescimento neste novo ciclo olímpico até 2012, a partir de uma nova definição de metas por modalidade. O COB está investindo no aprimoramento de sua gestão profissional e das Confederações, com foco nas melhores condições para os atletas e comissões técnicas”, finalizou Nuzman.