Judoca diz que desligamento da seleção que vai ao Mundial servirá para ‘colocar a casa em ordem’ e reconhece que não está em boa forma
Carlos Honorato encarou com tranqüilidade seu desligamento da seleção que representará o Brasil no Campeonato Mundial do Egito, de 8 a 11 de setembro. O judoca se apresentou na concentração em São Paulo longe de sua melhor forma física e técnica e foi cortado da equipe nesta quarta-feira (24/8). O intuito da comissão técnica com a medida foi preservar o atleta, que se apresentou acima do peso em decorrência de uma forte gripe na última semana, que o obrigou a tomar remédios e a recorrer a uma alimentação reforçada, além de afastá-lo do tatame. O substituto de Honorato será Alexsander Guedes, mas sua ida ao Cairo ainda depende de questões burocráticas, como visto, certificado de vacina, inscrição e passagem. Guedes, campeão mundial militar em 1999, será integrado à seleção nesta quinta-feira.
“Foi uma decisão difícil, pois Honorato goza de muito carisma e é um expoente do judô brasileiro. Mas por conta de sua doença, ele acabou se apresentando acima do peso e debilitado física e tecnicamente, o que certamente comprometeria sua performance no Mundial”, explica o coordenador técnico da seleção brasileira, Ney Wilson. “Por tudo o que ele representa, resolvemos não expor o atleta, que certamente seria cobrado por resultados. Mas continuamos acreditando e investindo no seu potencial e contando com ele para futuras competições. Ele é um patrimônio do judô brasileiro e sua categoria ainda não apresenta uma renovação tão iminente”, acrescenta o coordenador, que tomou a decisão ao lado da equipe multidisciplinar da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), formada pelo médico Wagner Castropil, pelo preparador físico Josué Moraes, pela psicóloga Adriana Lacerda, pela nutricionista Roberta Lima, além dos técnicos Rosicléia Campos e Luiz Shinohara.
Honorato concorda que a atitude foi a melhor possível.
“Nesse momento, eles pensaram mais em mim do que eu mesmo. Tomaram uma decisão que talvez eu não tivesse coragem para tomar. E acredito que o peso foi o que menos contou para o corte. Não estou na minha melhor forma e senti isso nos primeiros dias de treino. Estava na verdade me enganando e tentando enganar os outros, mostrando uma condição que eu não apresentava. Dizer que estou feliz pode parecer estranho, mas fico contente de não ir ao Mundial na atual situação, pois chegar lá e não lutar bem seria mais frustrante do que não ir”, comentou o judoca, prata nas Olimpíadas de Sydney 2000 e bronze no Mundial de Osaka 2003. “Sei do valor que tem um atleta de ponta na equipe e minha má fase poderia comprometer o grupo. É como um craque em mau dia no futebol. Se ele não decide, o time sente. Acho que se não fosse bem no Egito, poderia atrapalhar o grupo, que está forte em busca de um bom resultado”, comparou.
De acordo com cartilha distribuída pela Confederação Brasileira de Judô no começo do ano – e reforçada em reuniões e emails ao longo do período – os
atletas deveriam se apresentar à seleção com 5% acima do peso de competição, diminuindo o percentual para 3% a 15 dias do embarque. Assim, Honorato deveria pesar 92kg na segunda-feira, dia 22. Mas na pesagem oficial de terça antes do treino, a balança mostrou 96kg, cerca de 6%.
“Tivemos outros casos semelhantes ao do Honorato às vésperas de competições importantes. Cortamos Fabiane Hukuda nos Jogos Sul-Americanos de 2002 e o João Derly antes do Mundial de Osaka 2003. Ambos são titulares da seleção brasileira hoje, o que mostra que nossas atitudes são pensadas e coerentes. Mas é importante ressaltar que o desligamento do Honorato não se deve exclusivamente ao peso. A balança só nos levou a pensar no que estava acontecendo com o atleta e nas condições que ele se apresentou”, explicou
Ney Wilson.
“Honorato depende muito de sua condição física para lutar pois tem características de muita força e velocidade. Ele não veio bem para a concentração e, nos treinos, estava em nível abaixo dos demais”, observou o técnico da seleção masculina, Luiz Shinohara, que acompanha Honorato desde os primeiros golpes ainda como faixa branca.
“Chegar aos 90kg não seria problema, mas estaria muito fragilizado e sujeito a lesões. E a saúde é o que mais importa, além de ter um objetivo maior que é Pequim 2008”, disse Honorato.
Honorato sabe do impacto de seu corte junto aos demais membros da equipe. Mas quer mostrar a todos que a media foi benéfica.
“Claro que ninguém deve ter ficado feliz com a minha saída. Mas até o fim da semana eles já vão ter esquecido um pouco e, se ninguém perguntar a eles, até o Mundial isso já vai ser uma página virada. Quero que meus companheiros tenham certeza de que estarei torcendo e lutando com cada um deles. E que quando eu voltar à equipe, vai ser para ser campeão. Para mostrar que foi bom ter parado agora para botar a casa em ordem. Cuidar de pequenas lesões, pensar nos erros e acertos que tive até aqui. E logo, logo estarei de volta ao convívio deles”, disse Honorato. “Quero chegar bem em Pequim. De nada ia valer uma medalha no Egito e ficar pelo caminho depois”, frisou.